terça-feira, 20 de março de 2012

Conceito básico de Sombra

Texto de Rubedo
 
Conceito básico de Sombra

Uma parte do ‘inconsciente individual’ do homem chama-se ‘sombra’. É um ‘lugar virtual’ que durante toda sua vida ele vai colocando as suas ‘características reprimidas’. De um modo geral pode-se dizer que é lá onde seus defeitos ficam. Tem este nome por ficar oculta atrás de um corpo que recebe luz. Não é dado ao homem conhecer, normalmente, a sua sombra. É preciso um longo trabalho para torná-la consciente. O trabalho com a sombra é tarefa para a vida toda. Ulson coloca o problema da seguinte maneira:

"Dentre todos os conteúdos arquetípicos, o que se encontra mais próximo do ego é a sombra. Seu estrato mais superficial constitui o que chamamos de inconsciente pessoal, formado por elementos que já fizeram parte do consciente, mas que foram reprimidos por serem incompatíveis com os valores do consciente, ou ainda por conteúdos subliminares que, por não serem suficientemente fortes para atravessar o limiar da consciência, permaneceram em estado de latência." (ULSON, 1988, p. 60).


O conceito junguiano de sombra não consta do glossário do volume VI, das Obras Completas. Foi um conceito dos mais tardios e vamos achá-lo numa definição mais completa em 1946:

"Com efeito, ele encontrará infalivelmente aquilo que atravessa o seu caminho e o cruza, isto é, em primeiro lugar aquilo que ele não queria ser (a sombra), em segundo lugar, aquilo que não é ele, mas o outro (a realidade individual do tu) e em terceiro lugar, aquilo que é seu Não-eu psíquico, o inconsciente coletivo." (JUNG, 1990, p. 128).


Pode-se usar um exemplo como o a seguir:
Uma criança do sexo feminino foi muito extrovertida na sua infância, muito brincalhona, uma ‘espoleta’. Esta menina vivia numa família muito conservadora, e seus pais reprimiam seu comportamento mais expansivo. Viviam dizendo:
¾ Meninas não se vestem desse jeito. ¾ Meninas não sobem em árvores, nem jogam bola. ¾ Meninas só brincam de bonecas. ¾ Meninas não dizem coisas feias.
Acontece que a menina em questão vai reprimindo dia após dia suas características extrovertidas, o seu lado espontâneo, o seu lado criativo. Estes aspectos de sua personalidade não vão embora, ficam no inconsciente pessoal e juntamente com outros aspectos reprimidos constituem a sua sombra. Lemos em Wolff o seguinte:

"[...] porque falta a coragem de se encontrar a si próprio. Isso significa, para a psicologia profunda, a coragem de encontrar-se e confrontar-se com a própria 'sombra', o que não é, pura e simplesmente, mal. Sombra é, antes, tudo o que há de submerso, esquecido ou silenciado, tudo o que é penoso e, portanto, é removido. É também tudo aquilo que não se viveu, não se realizou, embora houvessem condições para tanto. Em resumo: é o 'lado obscuro' da personalidade." (WOLFF, 1990, p. 72).


Quando o homem assume, como seu objetivo, que tudo que lhe afeta ou lhe emociona é seu e só seu, ele já está bem situado no caminho da confrontação com a sua sombra. Ele vai a uma exposição de quadros e apenas um quadro lhe afeta, lhe toca, lhe emociona; ao ler alguns livros um específico lhe emociona mais que os outros. Se ele tiver em mente que aquelas imagens simbólicas que lhe atingiram não atingiram mais ninguém daquele modo e começar a perceber o quanto de sua psique está envolvido no processo, então terá um ponto de partida palpável para lidar com a sombra, ou seja, um bom começo para um processo que vai levar a vida toda. Stein colocou o problema da seguinte maneira:

"Um dos fatores psíquicos inconscientes que o ego não pode controlar é a sombra. De fato, o ego, usualmente, não possui sequer consciência de que projeta uma sombra. Jung emprega o termo sombra para denotar uma realidade psicológica que é relativamente fácil de captar num nível imagístico, mas mais difícil de compreender nos níveis prático e teórico." (STEIN, 2000, p. 98). 


Fonte: http://cgjung.wikispaces.com/sombra, em 20 Mar 2012
 

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